Sertânia – O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, esforçou-se, ontem, para mostrar que mantém o ritmo de trabalho em alta, mesmo diante da avalanche de denúncias que vem sofrendo. De carro, ao lado de assessores e prefeitos aliados, ele percorreu cerca de 30 quilômetros de terra batida e poeira, entre os municípios Sertânia e Custódia, no Sertão do estado, para visitar as obras de transposição do Rio São Francisco e anunciar a retomada delas, que agora estão orçadas em R$ 6,9 bilhões. “A presidente quer que eu trabalhe... e muito”, afirmou, depois de passar quase três horas em vistorias. “Não me arrependo de nenhum ato que tenha praticado”, acrescentou o ministro, ressaltando que, em 30 anos de vida pública, nunca teve as contas rejeitadas em qualquer instância.

Fernando Bezerra não adotou “o jeito Lula de ser” ao voltar a Pernambuco, seu reduto eleitoral e pelo qual tem sido acusado de favorecimento político. Preferiu discrição. Fez um pronunciamento de 25 minutos na assinatura da ordem de serviço do lote 12, em Sertânia, numa cerimônia simples, sem a presença de caciques estaduais e sem alfinetar adversários. Estiveram no local apenas alguns prefeitos do Sertão pernambucano e da Paraíba, mas não houve formalidades, microfones ou palanques. Tudo foi muito improvisado, exceto algumas faixas espalhadas pela cidade que o parabenizavam pela retomada das obras, que são divididas em 14 lotes, dos quais cinco estão paralisados.

O ministro demonstrou estar com o semblante abatido. Mas conversou cerca de uma hora com os jornalistas, respondendo a perguntas sobre a transposição e as acusações das quais vem sendo alvo desde o início do mês. Mostrou, inclusive, que sua prioridade é reforçar a agenda positiva, tanto no tocante às enchentes quanto em relação à estiagem. Entre os dois municípios visitados ontem, por exemplo, ele falou 54 minutos sobre as obras da transposição e apenas 11 minutos sobre a crise enfrentada.

A visita do ministro a Pernambuco foi uma forma de sair da agenda negativa e dar ênfase à transposição do São Francisco, uma das principais marcas do governo Lula e da presidente Dilma Rousseff (PT). Segundo ele, não deve haver mais paralisações nas obras porque as empresas estão trabalhando com metas e prazos, semelhante ao que ocorre na gestão do governador Eduardo Campos.

Bezerra Coelho ainda disse torcer pelo fim do bombardeio, mas passou longe de declarações polêmicas, como as que foram dadas por outros ministros que caíram. “Eu espero que cessem (as denúncias). Tenho convicção de os questionamentos levantados foram devidamente esclarecidos. (…) Com relação ao fogo amigo, é evidente que interesses partidários podem se aguçar, mas quero registrar que recebi o apoio de todos os partidos da base do governo. Quero dizer que, se houve fogo amigo, que eu não afirmo, ele desapareceu”, observou.

Gestor se diz injustiçado

O ministro Fernando Bezerra Coelho chegou em Sertânia, no Sertão pernambucano, com uma fita azul no braço esquerdo. Estava desgastada, mas ainda longe de quebrar. Ele disse que pediu, em visita que fez recentemente à Bahia, “sorte e saúde” aos céus, mas preferiu não revelar o nome do santo. Talvez por crença ou pela crise que enfrenta desde o início do mês. Sem sorrir como de costume, o que praticamente virou uma marca, o ministro fez desabafos e se disse injustiçado. Segundo ele, o Ministério da Integração divulgou 14 notas desde que ele passou a ser alvo de ataques e quase nenhuma foi considerada pela imprensa, com raras exceções.

Entre as mais recentes denúncias, ele negou que seu filho, o deputado federal Fernando Filho (PSB), prefeiturável em Petrolina, tivesse repassado recursos de emendas, no valor de R$ 4,3 milhões, para empresas fantasmas. “A Codevasf está esclarecendo esse questionamento. Mas a empresa não é fantasma, não participou de licitação com empresa em que o sócio fazia parte de uma outra sociedade”, afirmou.

Segundo o ministro, um outro jornal divulgou, no último domingo, que “até hoje Petrolina não sabia onde estava os recursos do programa Eja (Educação de Jovens e Adultos)”. “É estranho porque minhas contas do Eja estão todas aprovadas e eu mesmo liguei para o ministro da Educação, Fernando Haddad, para que ele possa dar esclarecimentos das prestações que fiz ao ministério (enquanto era prefeito de Petrolina)”.

Bezerra Coelho frisou, ainda, que mantém o ritmo de trabalho. Ele hoje se reúne com a ministra Gleisi Hoffamann para discutir os problemas das enchentes nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. (A.M.)

Transposição ficará R$ 1,5 bi mais cara

Alvo de críticas por conta de atrasos e preços aditivados, a transposição do Rio São Francisco deve ter o custo aumentado em R$ 1,5 bilhão e empregar até 6 mil trabalhadores. Os novos valores foram anunciados, ontem, pelo próprio ministro Fernando Bezerra Coelho, durante a assinatura da ordem de serviço do lote 12, orçado em R$ 132, 8 milhões. Ele frisou que haverá novas licitações e rescisões de contratos, mas explicou que o aumento de preço se deve, especialmente, aos diferentes tipos de terreno ao longo da obra. Lembrou, por exemplo, os lugares por onde passou durante as vistorias e as diferentes intervenções. Em alguns trechos, o rio é raso, em outros, profundo, e em outros ainda passa por lugares bem elevados.

Antes orçado em R$ 5,4 bilhões, o projeto tem previsão de consumir, dos cofres públicos, R$ 6,9 bilhões até o seu final. Ao todo, a obra tem mais de 600 quilômetros de extensão e é vista como uma das principais metas do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) - menina dos olhos da presidente Dilma Rousseff. “A cada mês estamos nos encontrando com a imprensa, para prestar contas à sociedade e fazer um balanço das obras. Na próxima semana, vamos remobilizar os lotes 1 e 2, em Cabrobó (também no Sertão pernambucano)”, afirmou.

Segundo o ministro, até o final de dezembro, o governo estará entregando a etapa piloto do eixo leste da transposição, prevista para ser concluída em 2014. O protótipo terá 20 quilômetros de extensão e vai operar com captação, estação elevatória, estação de bombeamento, aqueduto e barragem.

O ministro negou que haverá aumento excessivo nas cobranças da água, por conta da transposição. De acordo com ele, o custo da implementação da obra será 100% bancado pela União, o da operação e manutenção dos canais será 100% financiado pelos estados beneficiados, e o custo da energia, que poderia ser um entrave e encarecer, vem caindo. “Tudo contribui para o barateamento da água. Em 2005 (nas primeiras projeções), estávamos vivendo um apagão. Agora, é diferente e vamos recomendar à Fundação Getúlio Vargas que revise os pormenores”, prometeu o ministro. (A.M.)

Saiba mais

Compromissos assumidos

Lote 11, no município de Custódia, Sertão de Pernambuco, tem 475 trabalhadores, está bem avançado (88,3%), e deve absorver até 550 empregados

A retomada das obras do lote 12, em Sertânia, está orçada em R$ 132,8 milhões. De imediato, serão contratadas 93 pessoas até fevereiro, mas a previsão é de 900

Haverá balanço mensal apresentado através da imprensa

Na próxima semana (ainda em janeiro), o ministro Fernando Bezerra quer remobilizar os lotes 1 e 2, localizados no município de Cabrobó

Até a primeira quinzena de fevereiro, o lote 10, em Custódia, estará remobilizado

Lançamento das licitações complementares e previsão para, até maio, terminar todo o processo de licitação das obras

Fonte: Ministério da Integração