Valteir Soares, um dos agricultores responsáveis pela Casa de Sementes, contou para o grupo que a ideia de construí-la surgiu a partir de uma visita a Pernambuco, na qual conheceu a comunidade de Mulungu e viu as pessoas de lá trocando sementes entre si. Além disso, foi através desse intercâmbio que modificou o seu modo de produção: “eu era muito queimador até 2006, minha terra estava muito degradada. Depois que parei, minha terra melhorou cem por cento”. O agricultor, que não gosta de se identificar como guardião de sementes (“quem são guardiões são vocês, que plantam em suas comunidades”), relata que a Casa foi construída em forma de mutirão em 2007, atualmente possui 85 famílias cadastradas e atende 3 municípios. O espaço abriga mais de 120 variedades de milho, feijão, sementes nativas e hortaliças. Sua gestão se dá através de uma comissão formada por seis pessoas: 2 mulheres, 2 homens, 2 mulheres jovens e 2 homens jovens. Existe uma assembleia anual, e a política de empréstimo e devolução de sementes é pegar uma determinada quantidade e devolver o dobro. A Casa também impulsiona a economia solidária local, por meio da comercialização de sementes crioulas e outros produtos do Caldeirão e comunidades do entorno: conservas de pimenta e pepino, rapé, artesanato, argila.
As agricultoras e agricultores interagiram bastante com Valteir, perguntando sobre técnicas de armazenamento de sementes, organização e gestão da Casa, e compartilhando com ele formas de plantio e alimentação animal. Questionado sobre como a comunidade faz para preservar suas sementes, ele afirmou que a multiplicação acontece graças às tecnologias do P1+2 e às barragens. Além disso, as sementes também são produzidas em regiões mais úmidas, e trazidas para a Comunidade do Caldeirão. A prosa também teve momento para Valteir contar histórias engraçadas sobre suas andanças pelo Semiárido, em missão pelas sementes crioulas, e para recitação de poesias. Após o almoço coletivo, o grupo avaliou a vivência. Não faltaram depoimentos como o de Eduardo Santana, do município de Mairi, Bahia, que exaltou a bravura de Valteir em mobilizar sua comunidade para a organização da Casa, e como o de Madalena Novaes, baiana da cidade Maracá, que chamou a atenção para a produção e multiplicação de sementes em um clima bastante seco e com poucas chuvas.