Este ano um total de 204 estudantes oriundos de 27 municípios da Bahia (seis territórios de identidade) alternam-se no tempo escola-comunidade para cursar o 8º e 9º ano do ensino fundamental e do 1º ao 4º ano do ensino médio técnico em agropecuária. A Convivência com o Semiárido sempre norteou o currículo e os conteúdos da escola, inclusive contemplando efetivamente o tema água, tema central da Oficina “Água da Escola”, realizada pelo Irpaa na EFAJ nos dias 11 e 12 deste mês, com a participação de estudantes, educadores/as, monitores/as e gestora.

A oficina provocou a reflexão sobre como aperfeiçoar ainda mais o que já é feito em termos de gestão da água nesta escola. O uso da água no dia a dia da EFAJ é intenso porque além das atividades básicas para manter esta quantidade de estudantes residindo na escola, há ainda as diversas áreas de produção e/ou experimentação. A escola possui pomares, horta, viveiro de mudas, aprisco, pocilga, aviário, área de cultivo de forrageiras e plantas medicinais, casa de mel, jardins, padaria, além da cozinha, refeitórios e residências de estudantes, educadores/as e visitantes. Todas essas atividades necessitam de água, a qual é retirada de fontes diferentes, com destaque para a grande quantidade de água da chuva usada durante todo o ano.

Atualmente a escola possui 11 cisternas de tamanhos variados que armazenam água da chuva a partir de uma área total de captação de 3.665m², o que possibilita estocar um total médio de um milhão de litros de água. Além das cisternas, outras fontes são adotadas como 06 tanques, 01 represa e a barragem de São José do Jacuípe, além de 01 poço que não está usado, pois foi perfurado ano passado apenas para situações de emergência.

Durante a oficina, as/os estudantes manifestaram o compromisso que já possuem com o uso correto da água, mas disseram que foi importante o debate para refletir ainda mais sobre a origem da água que utilizam na escola, na comunidade e como podem aperfeiçoar a gestão da mesma, “uma gestão que tá preocupada em manter cada vez melhor a quantidade de água, melhor qualidade, utilizando de um jeito que não haja desperdícios”, reforça a estudante do 8º ano Íris Andreia Lima. Já para Artur Oliveira, do 3º ano do curso técnico, este debate pode ajudar também no diálogo escola-comunidade. Ele afirma ainda que foi importante parar para calcular a água disponível e água utilizada na escola, o que não foi tão difícil porque devido as atividades práticas as/os estudantes já possuem uma base, principalmente do consumo.

A educação contextualizada e abordagem da mídia acerca do tema também estiveram em debate, o que motivou as/os participantes a buscarem se apropriar mais dos instrumentos de comunicação para divulgar a experiência da escola.

Uso da água da chuva

“A EFAJ é a única escola do Semiárido que conhecemos que nunca recebeu água de carro-pipa, se tem outra não sabemos”, aponta André Rocha, coordenador do Eixo Clima e Água do Irpaa. A afirmação, que é assegurada pela própria escola, chama atenção por ser um exemplo no tocante ao armazenamento de água da chuva para consumo humano, oferecendo água potável mesmo nos períodos de estiagem.

Para a gestora da escola, Iracema Lima, o trabalho da gestão da água da escola precisa contar com o compromisso de todos e todas da comunidade escolar. Ela explica que o uso da água já acontece de forma bastante consciente mas que ainda é necessário se apropriar cada vez mais dessa discussão. Iracema pontua que um dos desafios é a qualidade, “a gente conhecer de fato a qualidade da água que a gente tem”. Segundo ela, com exceção da água acumulada nas cisternas, que por ser oriunda da chuva todos/as confiam, com relação as demais fontes é preciso ainda ter a certeza da qualidade para assim melhor definir em que atividades utilizar.

Reaproveitamento

A água usada para tomar banho, que normalmente nas comunidades rurais é lançada a céu aberto ou em fossas sépticas, na EFAJ vem sendo reutilizada para irrigar forragens. A água é armazenada em um tanque impermeabilizado e coberto com laje e é retirada com um pequeno motor. Além das forragens, já se inicia também a irrigação de frutíferas, pensando agora formas de tratar esta água.

Outra experiência que começa a contar com a pesquisa por parte de monitores/as e estudantes da escola é a reutilização do esgoto oriundo dos sanitários, o que pode resultar em mais uma alternativa para as áreas rurais no sentido de destinar corretamente o esgoto, um dos componentes do saneamento básico.