
Preocupados com a previsão climática da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), que prevê índices pluviométricos abaixo do normal para os próximos três meses, o grupo reunido resolveu bancar uma nova reunião, após a realizada em abril passado, ocasião em que foi lançada a Carta do Campo Potiguar. Medidas paliativas e definitivas nortearam o encontro inicial.
Segundo o coordenador da ASA, Paulo Segundo, o que foi discutido na manhã desta quinta-feira (31) corre o risco de ser mais do mesmo, ainda que a importância de revelar anseios do homem do campo seja uma obrigação de quem vive a penúria da estiagem.
“Nossa preocupação é grande porque vemos a politização da seca. Estamos discutindo há mais de dois anos com famílias, agricultores, mas, infelizmente, não sentimos o menor interesse do Governo em prestar assistência técnica e realmente tomar medidas que alterem o cenário. Mesmo sem chuva, com rebanhos inteiros morrendo, o agricultor continuar produzindo, buscando alternativas. Só que o apoio está longe do esperado. Criaram o Comitê da seca e não chamaram os órgãos que estão aqui. Queremos políticas públicas definidas”, lamenta Paulo.
Com 45 mil cisternas construídas através de programas federais do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), a ASA atua na vida do sertanejo como um olho clínico quanto às necessidades de cada região. Morador de Pau dos Ferros, Paulo vê o estado crítico em que se encontra a barragem de seu município, no momento com apenas 22,5% da capacidade de volume de água. “E vai piorar, já que a Secretaria de Recursos Hídricos diz que ela suporta atender cidades vizinhas, como Luiz Gomes, onde falta água há mais de um ano. O quadro do Alto Oeste é difícil”.
Já Dom Jaime Vieira adota o ceticismo e a força de valores cristãos neste momento de dificuldade. Ciente do uso que a classe política faz da Indústria da Seca, ele recobra a atenção e clama por atitudes que dignifiquem o nome de Deus usado em períodos eleitorais. “Estamos cansados diante de velhos discursos, sempre contrários aos menos favorecidos. A preocupação da Igreja de mobilizar a sociedade, em defesa dos valores de equidade, se depara com essa realidade gravíssima que nos incomoda com a inércia de políticas públicas consistentes”.
Sem previsão de término para a obra mais alardeada pelo ex-presidente Lula, a Transposição do São Francisco, fica a dúvida quanto ao futuro de uma região localizada em uma zona de influência climática que oscila a cada estação, mas que sempre é atingida por promessas em troca de voto. “Isto é lamentável. A fé usada como moeda de troca em período eleitoral. Com as devidas exceções, eles nem sempre agem com princípios cristãos de justiça social, sensibilidade com os despossuídos”.