Caravana em Brasília
06.08.2018
Confederação Nacional dos Bispos do Brasil manifesta apoio à pauta da Caravana que denuncia a volta da fome

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Por Elka Macedo | Asacom

Comitiva da Caravana é recebida pelo Secretário Geral da CNBB, Dom Leonardo Ulrich Steiner
“Nas cidades pequenas e médias do Semiárido nós temos visto e ouvido muitas pessoas na rua pedindo comida. As pessoas chegam e dizem: eu quero comer!” A afirmação do coordenador da Articulação Semiárido (ASA) pelo Estado da Bahia, Cícero Félix, foi um dos relatos que ratificaram o quanto a volta da fome ao país é alarmante. A fala foi feita na audiência que aconteceu na manhã de hoje (6), na sede da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em Brasília (DF). O evento reuniu o Secretário-Geral da CNBB Dom Frei Leonardo Ulrich Steiner; Frei Olávio Dotto, assessor das pastorais sociais da CNBB; Alexandre Pires, Cícero Félix e Cristina Nascimento da ASA Brasil; Fernando Zamban da Cáritas Brasileira; Thiago Valetim, da CPT, Francisco Dalchiavon e Alexandre Conceição, do MST; José Josivaldo, do MAB; Bruno Pilon, do MPA e Aristides Santos, da Contag;
 
As representações são de movimentos que estão apoiando a Caravana Semiárido contra a Fome que já percorreu mais de 4 mil quilômetros, passando por quatro regiões do país para anunciar a transformação que a conquista de políticas públicas possibilitou aos povos do campo e da cidade e denunciar a volta da fome e o corte nas políticas. Na ocasião, foi expressa a relevância do apoio da CNBB para possibilitar que esta pauta seja debatida em cada canto do país no sentido de fortalecer o movimento para que a situação de fome não seja mais uma vez a responsável pelo êxodo e a morte de pessoas carentes.
 
“A gente sabe da missão histórica da igreja no combate à pobreza e à fome. A igreja do Brasil e as pastorais têm um papel importante nisso. A participação da CNBB como uma voz importante é necessária! Nós estamos enquanto Semiárido, mas a volta da fome é no Brasil inteiro. A realidade já nos mostra como a fome está voltando com mais intensidade. A gente passou 20 anos para que o Brasil saísse do mapa da fome e fazer isso novamente não é algo imediato. Estamos aqui para dizer que a CNBB e as pastorais sociais são importante demais pela incidência que têm na sociedade”, salientou o coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Thiago Valentim.
 
Cícero Felix entrega documento a Dom Leonardo
Durante a conversa, Cícero Félix entregou a Dom Leonardo o documento da Caravana que traz dados sobre o aumento da situação de miséria no país, que será protocolado na manhã desta terça-feira (7) no Supremo Tribunal Federal (STF). “Nos últimos tempos teve uma migração muito forte internamente no Semiárido, não teve migração para outras regiões como na década de 70 e 80. Na última grande seca na década de 80, segundo dados levantados a partir de um trabalho feito pela CNBB e o Ibase, estima-se que morreram no Semiárido algo em torno de 1 milhão de pessoas, principalmente crianças e pessoas mais velhas. Isso quando a população do Semiárido era metade do que é hoje. Hoje, nós passamos pela maior seca dos últimos 100 anos, desde 2011 a gente passa por uma seca prolongada. Até o momento, não se registrou morte de pessoas por falta de comida, nem de água, nem saques, ainda. Porque nós conseguimos todas essas conquistas: aposentadoria rural, melhoria do salário mínimo, bolsa-família, seguro-safra, PAA, PNAE. Todas estas políticas foram dando lastro e garantiram que as famílias não tivessem que sair do Semiárido para ir embora para o sul do Brasil”, disse Félix, destacando alguns dados registrados no documento.
 
Ao receber o documento e ouvir os relatos, o Secretário-Geral da CNBB, Dom Leonardo, se comprometeu a apresentar os dados ao Presidente da CNBB, Dom Sérgio da Rocha, e refletir a pauta com os bispos do Nordeste durante evento que acontece esta semana no Ceará. “Nós infelizmente, com o governo do PT, quase nos desarticulamos. Cada grupo foi para o seu lado cuidar das suas coisas e aquele movimento crescente que havia no passado e que marcou uma presença muito forte na sociedade diminuiu muito e diante das dificuldades que estamos enfrentando não só econômicas, mas também políticas e socialmente eu creio que é importante que os movimentos sentem juntos, discutam e aprofundem e façam propostas porque foi disso que nasceu a Constituição em 1988. Foi uma colaboração enorme de tantos movimentos e de tantos grupos, e a Constituição de 1988 está sendo modificada em vários artigos a questão do cuidado com os pobres. Vejam o que está sendo feito com os povos indígenas, com os povos quilombolas, com povos e pobres. Nós ainda não temos um movimento mais consistente. É preciso ir mais”, aconselhou Dom Leonardo, que também se dispôs a conversar sobre o assunto com a Presidente do STF, ministra Carmen Lúcia.
 
Para o coordenador da ASA, Alexandre Pires, além de ter sido um momento positivo de articulação em torno da volta da fome, este foi um espaço em que se fortaleceu a unidade dos movimentos em relação à pobreza. “ A fala de Dom Leonardo mostra a disposição e sintonia que a CNBB tem tido com essas mesmas preocupações nossas. O compromisso do Dom em fazer este diálogo com o conjunto dos Bispos do Nordeste já é uma sinalização extremamente positiva porque coloca na agenda da CNBB a partir também do diálogo com os movimentos e com a ASA destas preocupações e também a sensibilidade de buscar junto conosco a possibilidade de um diálogo com o Supremo Tribunal Federal para que a gente possa fazer neste diálogo também a manifestação das nossas preocupações”.