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A trajetória de Sueldo: “Essa é a história da minha vida”

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Eu sei que aqui meus filhos têm muito mais oportunidades do que quando eu morava na cidade, diz Sueldo | Foto: Leonardo Freitas

O assentamento Paulo Freire, localizado a cerca de 8 km de distância da sede do município de Mossoró/RN, é cenário de uma história de muita luta, determinação e trabalho na unidade de produção familiar do agricultor Sueldo Vicente de Morais e de sua esposa Antônia Aldeisa, ambos agricultores experimentadores e guardiões das Sementes da Tradição. Em 2002, Sueldo foi morar na Paraíba onde iniciou um curso técnico em agroecologia do qual ele teve que desistir por causa de problemas familiares, faltando apenas oito meses para conclusão. “Minha mãe já tinha essa ideia de agroecologia, mas foi nesse curso que eu vi a possibilidade de sobrevivência no campo e eu já gostava da natureza”, disse.

De acordo com o Sueldo, sua luta começou entre os anos de 2001 e 2003 quando decidiu abdicar da sua vida na cidade para acampar nas terras que hoje são suas por direito. Segundo o agricultor, a decisão não agradou seus familiares que se opuseram, mas ele não desistiu e assim “em setembro de 2003 aconteceu o processo de desapropriação da terra e posse dos assentados”, contou. Ainda segundo ele, com um mês de acampamento foi nomeado coordenador do grupo de assentados pelo Movimento dos Sem Terra chegando a se destacar no Estado e na região. “Eu morava na cidade, mas aqui eu estou muito mais feliz do que na rua. Eu sei que aqui meus filhos têm muito mais oportunidades do que quando eu morava na cidade. Essa é a história da minha vida”, disse com convicção.

A unidade de produção de Sueldo está em torno de um hectare de terra dividida nas atividades de melipolicultura, hortaliças e fruteiras. Além disso, a família possui uma pequena criação de ovelhas e duas vacas que também fazem parte da unidade produtiva. Conforme o agricultor, seu desejo atual é conseguir um viveiro de mudas para multiplicação das suas espécies. “Nossos planos são muitos, queremos ter um viveiro onde a gente possa multiplicar e vender as mudas de plantas nativas e de hortaliças que aprendi a amar desde a infância, e também aumentar nosso plantio de fruteiras com mais bananeiras, acerolas, pinhas, cocos, cajus, mangas, goiabas, seriguelas e cajaranas”. O agricultor afirma que o maior desafio para permanecer na terra ainda é a falta de água para produção e consumo. Apesar de ter uma cisterna de 16 mil litros de água no seu quintal, Sueldo afirma que é insuficiente para manter a produção, uma vez que o rio que passa próximo à sua área está seco.

O banco de sementes familiar de Sueldo conta com as espécies de milho-zé-moreno, pingo-de-ouro, indígena, milho-alho e sabugo-fino. Além de feijão sempre verde, alagoano e sementes de gergelim. Sueldo é presidente da associação do assentamento e comercializa seus produtos na rede Xique-Xique. De acordo com ele, a renda da família é complementada através de programas como o Bolsa Família, o Seguro Safra e a venda de composto orgânico produzido por ele. “Nossa maior dificuldade é a falta de um transporte apropriado para carregar a mercadoria que vendemos na feira da agricultura familiar, que a gente participa no município”. Ainda segundo ele, a época em que mais vendeu seus produtos foi quando ele começou a usar o whatsapp para aceitar pedidos e fazer entregas em domicílio no assentamento e nas comunidades vizinhas.