Por Raquel Santana
Partilha de experiências e saberes. Esse foi o tom do início das atividades do II Encontro da Agrobiodiversidade do Semiárido Mineiro, que se deu através de 11 caravanas agroecológicas, realizadas no dia 1º de outubro em diversas cidades do Vale do Jequitinhonha. Uma delas aconteceu na Casa de Sementes da Gente e do Amor, na Comunidade Caldeirão, município de Itinga. O público, quase 40 pessoas, em sua maioria agricultoras e agricultores assessorados pelas organizações baianas CEDASB e Cáritas Ruy Barbosa, participantes do Programa Sementes do Semiárido da ASA, que saíram de seus territórios com o objetivo de conhecer e partilhar experiências, principalmente relacionadas às sementes crioulas.
Valteir Soares, um dos agricultores responsáveis pela Casa de Sementes, contou para o grupo que a ideia de construí-la surgiu a partir de uma visita a Pernambuco, na qual conheceu a comunidade de Mulungu e viu as pessoas de lá trocando sementes entre si. Além disso, foi através desse intercâmbio que modificou o seu modo de produção: “eu era muito queimador até 2006, minha terra estava muito degradada. Depois que parei, minha terra melhorou cem por cento”. O agricultor, que não gosta de se identificar como guardião de sementes (“quem são guardiões são vocês, que plantam em suas comunidades”), relata que a Casa foi construída em forma de mutirão em 2007, atualmente possui 85 famílias cadastradas e atende 3 municípios. O espaço abriga mais de 120 variedades de milho, feijão, sementes nativas e hortaliças. Sua gestão se dá através de uma comissão formada por seis pessoas: 2 mulheres, 2 homens, 2 mulheres jovens e 2 homens jovens. Existe uma assembleia anual, e a política de empréstimo e devolução de sementes é pegar uma determinada quantidade e devolver o dobro. A Casa também impulsiona a economia solidária local, por meio da comercialização de sementes crioulas e outros produtos do Caldeirão e comunidades do entorno: conservas de pimenta e pepino, rapé, artesanato, argila.
As agricultoras e agricultores interagiram bastante com Valteir, perguntando sobre técnicas de armazenamento de sementes, organização e gestão da Casa, e compartilhando com ele formas de plantio e alimentação animal. Questionado sobre como a comunidade faz para preservar suas sementes, ele afirmou que a multiplicação acontece graças às tecnologias do P1+2 e às barragens. Além disso, as sementes também são produzidas em regiões mais úmidas, e trazidas para a Comunidade do Caldeirão. A prosa também teve momento para Valteir contar histórias engraçadas sobre suas andanças pelo Semiárido, em missão pelas sementes crioulas, e para recitação de poesias. Após o almoço coletivo, o grupo avaliou a vivência. Não faltaram depoimentos como o de Eduardo Santana, do município de Mairi, Bahia, que exaltou a bravura de Valteir em mobilizar sua comunidade para a organização da Casa, e como o de Madalena Novaes, baiana da cidade Maracá, que chamou a atenção para a produção e multiplicação de sementes em um clima bastante seco e com poucas chuvas.
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